Há muito tempo que se denuncia que o financiamento privado empresarial, independentemente de ser declarado ou não, só tem servido para capturar o sistema político e colocá-lo escancaradamente a serviço dos interesses privados. Nenhum capitalista em sã consciência aplicaria seu dinheiro em alguma atividade que não trouxesse embutida alguma garantia de retorno. Os empreendimentos privados em situação de concorrência não podem se dar ao luxo de desperdiçar seus recursos em algo que não contribua para a elevação da rentabilidade do próprio capital.
Por isso, parece-me fora de propósito a surpresa que tem provocado nos meios de comunicação, a declaração do Paulo Roberto Costa, delator do esquema de corrupção na Petrobrás de que o financiamento privado de campanha política para o empresário é apenas um negócio, um empréstimo que precisa ser devolvido com juros. Ora, mas quem é que não sabia disso? De fato, o óbvio só é óbvio quando pronunciado. Já faz quase um ano que o site www.donosdocongresso.com.br vem tentando demonstrar quais são as empresas que vem comprando, com o financiamento privado das campanhas, o direito de decidir o que vai ser decidido politicamente no País.
Com o financiamento privado de campanhas eleitorais ocorre uma total distorção da própria representação política nacional. O Poder emana do Povo apenas no texto constitucional. De fato, emana do patrocinador.
Além de constituir numa forma legal de sequestrar a democracia, o financiamento privado tem funcionado também como um poderoso instrumento de exclusão política. A desigualdade de competição entre os candidatos financiados e os não financiados é brutal. Os próprios partidos políticos acabam reféns dos arrecadadores de recursos. Por outro lado, romper com esta lógica significa aceitar o caminho da marginalidade política. Ou seja, quem aceita o jogo, pode entrar no tabuleiro, mas já sabe a quem deverá servir. Quem não o aceita, não entra, logo fica fora do único e possível espaço de decisão.
São verdadeiras armadilhas que só fazem reproduzir o modelo e que precisam ser desativadas. Enquanto estivermos repetindo o mesmo processo o resultado será sempre o mesmo. Aliás, isso já fora dito por Albert Einstein há muitos anos. Na política não é diferente.
O escândalo da Petrobrás apenas joga luz neste cenário já tão conhecido, mas que não tem sido tratado da maneira como merece. Usar empresas públicas para pagar dívidas de campanha mediante contratos é apenas uma das formas de garantir retorno aos investidores. Muitas outras existem e algumas delas são por vezes até aplaudidas pela opinião pública, como a desoneração tributária de alguns setores, a distribuição de benefícios fiscais a outros, investimentos públicos dirigidos, para citar alguns exemplos.
Seria interessante saber qual a avaliação econômica e qual expectativa de resultados que justificaram os investimentos feitos em 2014 em candidatos a deputados e senadores de 14 milhões da empresa Cosan, de 12 milhões da OAS, de 11 milhões da Gerdau, de 11 milhões do Itaú, de 10 milhões da Brasken, de 8 milhões do BMG, e assim por diante. Estes números referem-se apenas ao financiamento das candidaturas ao legislativo. Tenho curiosidade de saber como seria a prestação de contas do patrocinado? Como seriam demonstrados os resultados, até para justificar um novo financiamento no futuro?
Este sistema político está destruindo a política. Não se salva o País sem salvar a política e, para isso, é preciso libertá-la das correntes do financiamento privado.