Reuters – quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
As Ilhas Virgens Britânicas receberam mais investimentos estrangeiros diretos no ano passado do que duas grandes economias emergentes juntas, a Índia e o Brasil, de acordo com um levantamento da Organização das Nações Unidas divulgado nesta terça-feira.
O arquipélago caribenho, um paraíso fiscal que, não fosse por isso, dependeria do turismo, saltou na tabela dos principais destinos de investimentos nos últimos cinco anos. Recebeu 92 bilhões de dólares em divisas estrangeiras em 2013, segundo estimativas preliminares compiladas pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Esse foi o quarto maior total de investimentos recebido em todo o mundo. A maior economia do mundo, os Estados Unidos, atraiu 159 bilhões de dólares. A China, a segunda maior, captou 127 bilhões de dólares, enquanto a Rússia, grande produtora de petróleo e metais, recebeu apenas 2 bilhões de dólares a mais do que as Ilhas Virgens Britânicas.
Brasil e Índia ficaram mais abaixo no ranking, com 63 bilhões e 28 bilhões de dólares, respectivamente. Para a maioria dos países, o investimento estrangeiro direto consiste principalmente de gastos de empresas em aquisições corporativas e em novos projetos no exterior.
Quanto às Ilhas Virgens Britânicas, a maior parte do dinheiro é rapidamente transferida para dentro e fora do país ou movimentada pelas contas financeiras de grandes firmas, que a Unctad define como “corporações transnacionais” ou TNCs.
“Nas Ilhas Virgens Britânicas há algumas empresas financeiras que desempenham o papel de Tesouraria das TNCs, como uma espécie de unidade de lucros ou centro de lucros”, disse o diretor da divisão de investimento e empreendimento da Unctad, James Zhan.
“As receitas das TNCs fluem para lá basicamente de suas afiliadas estrangeiras em países com elevadas taxas tributárias”, disse ele à imprensa.
O fluxo anual de investimento para as ilhas aumentou 40 por cento em relação a um ano atrás e segue uma tendência que decolou depois que a crise econômica se impôs e os governos começaram a reprimir a evasão fiscal.
Zhan disse que provavelmente o boom de investimentos nas Ilhas Virgens Britânicas não deverá continuar no mesmo ritmo porque os órgãos reguladores estão determinados a deter tais fluxos.
“A médio ou longo prazo consideramos que pode diminuir”, afirmou ele a jornalistas. “Os governos estão examinando a situação e tentando reforçar seu arcabouço regulatório, tanto em nível nacional como internacional.”
As principais baixas de tais regulamentações provavelmente serão os fluxos financeiros das grandes empresas, disse ele, acrescentando que a Unctad está elaborando um estudo para mostrar qual será a dimensão do impacto.
Os fluxos contínuos para as Ilhas Virgens Britânicas, as quais a Unctad se referia previamente como paraíso fiscal, provavelmente manterão a região sob o microscópio do G20, grupo formado pelas principais economias do mundo, que já disse querer pôr pressão em “jurisdições não-cooperativas”.
O G20 pediu à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico que lidere os esforços de contenção da evasão fiscal internacional, e o fórum de transparência fiscal da OCDE apontou as Ilhas Virgens Britânicas como um dos cinco países que não atenderam aos padrões internacionais de transparência fiscal.
Segundo a Unctad, o fluxo global total de investimento estrangeiro direto aumentou 11 por cento, para 1,46 trilhão de dólares em 2013. A previsão é de um aumentar para 1,6 trilhão de dólares em 2014 e 1,8 trilhão de dólares em 2015.