Um tema que merece novamente ser trazido à baila, no momento em que a Votorantim Metais e a Iamgold Brasil, solicitam licença para instalação de uma mina para extração de chumbo, cobre e zinco, as margens do Rio Camaquã, que poderá gerar cerca de 450 empregos, na fase de instalação, e compensação financeira de 2 % sobre o lucro líquido declarado, é: Qual o valor de uma vida? Ocorre que o empreendimento está a querer se instalar em região de rara beleza e alto grau de conservação ambiental, bem como de um modo de vida sociologicamente raro. Nos dias atuais em que sucessivos desastres ecológicos nos fazem refletir sobre os impactos da ação do homem sobre o meio ambiente e suas consequências sobre o futuro dele próprio, e em que cada vez mais são raros os lugares no mundo onde a biodiversidade é minimamente preservada impõe-se perguntar quanto vale uma vida? E milhares delas quanto valerão? Quanto vale a história de um povo, seus costumes, suas tradições? Estes são bens disponíveis a ponto de serem livremente negociados pelos governos para uma empresa qualquer que deles deseje dispor? A mim me parece que não! E mesmo se fossem…O custo de uma vida deveria ser tão alto que tornaria inviável esse tipo de empreendimento.
E haverá atentado a vida animal e vegetal por conta do empreendimento? Sim haverá.Os efeitos já admitidos pelas empresas dão conta de poluição atmosférica, explosões, pilhas de rejeitos a céu aberto, utilização da água do Rio Camaquã, com seu consequente assoreamento e a eliminação de dezenas de cursos de água, além de muitos outros mais, efeitos estes que perdurarão no tempo por dezenas, ou até mesmo, por centenas de anos, muito após o esgotamento do empreendimento ter cessado qualquer possível benefício gerado…Fora o fato de que é sabido, e a mídia dispõe de farto material sobre os constantes vazamentos de materiais tóxicos, em larga escala nas áreas de mineração, dizimando centenas de vidas e deixando um rastro de destruição por quilômetros e quilômetros de distância. Só para citar alguns: Adrianópolis, no Paraná; Santo Amaro, na Bahia e o mais recente em Mariana, Minas Gerais. Na vizinha Argentina também, recentemente em uma mina a céu aberto, explorada pela Canadense Barrik Gold, ocorreu vazamento de cianureto contaminando diversos rios. Então me parece que, para um país sacrificar tanto de seu patrimônio e das vidas que tem o dever constitucional de proteger somente em caso de extrema necessidade: Então os “bens” obtidos na mineração serão usados para matar a fome? Curar doenças? Prolongar a vida dos demais brasileiros? De forma que pesasse na balança a morte de alguns para salvar a vida de outros? A resposta é um sonoro NÃO. Os minérios obtidos serão em sua maioria, ainda em estado bruto, exportados pelo porto de Rio Grande e proporcionarão luxo e riqueza bem longe daqui…Mas então, se as vidas de nossos cidadãos, sua atividade econômica geradora de renda e empregos, a fauna e a flora, e um dos bens mais raros e indispensáveis para a sobrevivência da humanidade, a água, estão sendo trocados por migalhas, se comparado ao valor do que será sacrificado, porque sequer se cogita em permitir tal empreendimento?
Se o estado brasileiro ao invés de resultados positivos terá custos, pelo comprometimento da atividade exercida pelas comunidades do entorno, calcada no agronegócio, em sua maior parte na agricultura familiar, grande geradora de emprego e importante componente no produto interno bruto do Brasil, e na resolução dos problemas, inclusive de saúde pública, causados pela mineração, em contrapartida de uma atividade mineradora que é das menos tributadas, que gera pouquíssimos empregos e de baixa qualidade, porque sequer se cogita em permitir tal empreendimento?