Estados Unidos e Brasil são os países mais desiguais do continente americano
Michele de Mello | Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 14 de Dezembro de 2021 às 10:55
Uma parcela de 10% da população mundial de super ricos concentra 3/4 da riqueza produzida em todo o planeta, enquanto 50% da população do globo detêm apenas 2%, aponta o relatório sobre Desigualdade Mundial, publicado no início do mês (7).
O norte da África e o Oriente Médio são as regiões mais desiguais do mundo, seguidos da América Latina, onde a diferença entre os mais ricos e mais pobres pode chegar a 55% da renda. O Brasil é o país com maior desigualdade do subcontinente latino-americano, com os 50% mais pobres ganhando 29 vezes a menos que os 10% mais ricos.
Entre as grandes potências econômicas mundiais também há diferenças abruptas. Nos Estados Unidos, a diferença de renda entre ricos e pobres é de 17 vezes, enquanto na China, os mais ricos ganham 14 vezes mais que os mais pobres.
O informe aponta que um adulto médio ganhou cerca de US$ 23.380 (aproximadamente R$ 128 mil) em 2021 e possui cerca de US$ 106 mil (R$ 583 mil). No entanto, os 10% mais ricos recebem 52% da renda produzida mundialmente, enquanto a metade mais pobre fica com apenas 8,5% da renda.
No caso do Brasil, a renda acumulada de 2021 de um adulto médio foi de R$43.600, porém a realidade é que 10% dos brasileiros obteve 59% da renda nacional total, ganhando 30 vezes mais que os mais pobres.
Desigualdade de riqueza é ainda mais pronunciada que a diferença de receita entre os mais pobres e mais ricos no mundo / Laboratório Mundial de Desigualdade
O relatório leva em conta dados de renda familiar, após as declarações de imposto de renda e outros tributos, para poder identificar o valor líquido que nada núcleo familiar poderia possuir.
O estudo compila investigações científicas de mais de 100 autores em todo o planeta, coordenado pelos economistas Lucas Chancel, membro do Laboratório de Desigualdade Mundial da Escola de Economia de Paris, Thomas Piketty, Emmanuel Saez, da Universidade da California, e Gabriel Zucman, autor do livro “A Riqueza Oculta das Nações: O Flagelo dos Paraísos Fiscais”, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
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“Apesar de que os governos de todo mundo publicam cifras sobre crescimento econômico anualmente, os relatórios não detalham como é a distribuição desse crescimento na população. O acesso a esses dados é fundamental para promover a democracia”, afirmam os pesquisadores.
Nos Estados Unidos, os mais ricos anham até 17 vezes mais que a população pobre / Spencer Platt / AFP
Entre 1995 e 2021, a metade mais pobre do planeta só captou 2,3% do crescimento mundial neste período, enquanto o 1% captou 38% do crescimento global.
Desde 1980, as brechas de ingresso e renda vem aumentando em todo o planeta com as políticas neoliberais. A proporção de receita que a metade mais pobre do mundo consegue acessar hoje representa a metade do que podia arrecadar em 1820.
Também houve uma clara tendência de aumento do patrimônio privado, em detrimento dos bens públicos. “Essa tendência foi aprofundada pela crise da covid-19, quando os governos pediram empréstimos equivalentes a 10 ou até 20% do PIB essencialmente ao setor privado”, indicam.
Os 10% de mais ricos da população também são responsáveis pela emissão de 48% de CO2, enquanto os mais pobres representam apenas 12% das emissões.
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Ao final do estudo, os pesquisadores dão sugestões de políticas públicas para reduzir as desigualdades sociais, entre elas está a criação de um imposto de renda sobre as grandes fortunas, que poderia variar de 0,6% até 3,2%, podendo arrecadar 2,1% da renda global, que deveria ser direcionada a investimentos em saúde e educação.
Uma proposta de imposto global sobre transnacionais foi ventilada durante a 47ª Cúpula do G7, em junho, e novamente no encontro do G20, em outubro, no entanto, projeto ainda não foi concretizado.
Edição: Thales Schmidt