Neste ano de 2014 estamos completando vinte anos de Plano Real. Embora possamos comemorar o fim da escalada da inflação que havia á época, a sobrevalorização cambial mantida artificialmente pelo governo federal e a tentativa de segurar a crise nas contas externas com as mais altas taxas de juros do mundo fizeram com que fosse gerada a maior dívida pública da história, retardando o crescimento brasileiro por mais de uma década.
Passados mais dez anos, a dívida pública cresceu assustadoramente e abocanha quase a metade dos recursos arrecadados para pagamento do serviço desta dívida, retirando recursos fundamentais que poderiam ser aplicados na saúde, educação, segurança, infra-estrutura. Não por acaso muitas pessoas protestaram em junho passado e, ao que tudo indica, vão seguir protestando contra o mau uso dos recursos públicos. Afinal, o que justifica construir em Brasília o segundo estádio de futebol mais caro do mundo, totalmente bancado com recursos públicos? E outro, na cidade de Manaus, de custo exorbitante e candidato a ser um elefante branco por causa do alto custo de manutenção e possibilidades reduzidas de utilização?
O que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo fizeram, entre outras coisas, foi deixar mais evidente que este tipo de evento é uma armadilha para países interessados em atrair investimentos, pois se estabelece uma espécie de guerra entre eles, onde o raciocínio é: “se não concedermos isenções, os investimentos não aparecem, os eventos vão para outros lugares e perderemos nossa oportunidade”.
Mas a oportunidade é mesmo para a FIFA e seus patrocinadores, beneficiados com isenções e financiamentos a juros subsidiados pelo governo, injustificados perante a sociedade brasileira, que já perde diariamente recursos arrecadados para pagamento de juros da dívida. Com as isenções e financiamentos em condições muito especiais, perde ainda mais a sociedade brasileira, até porque muito pouco do legado prometido de realizou.
Mesmo que consideremos a Copa do Mundo um evento bem sucedido – e de fato foi uma festa bonita, mesmo com o fracasso do futebol brasileiro – não se pode dizer que é um jogo de ganha-ganha. Não é possível reduzir a questão do sucesso na realização da Copa a uma espécie de “vencemos os pessimistas”. É preciso olhar atentamente para o fato de que a Copa, vendida como uma oportunidade em que todos ganham, na verdade é para poucos e reflete uma condução equivocada dos sucessivos governos, que priorizam grandes corporações e notórias entidades privadas em detrimento do conjunto da população.