Ajuste fiscal sem aumento de tributo: economia "pouco inteligente" na receita federal do Brasil.

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O Governo Federal vem divulgando junto à mídia uma série de medidas que tem como  escopo  reduzir  drasticamente  os  gastos  em  todos  os  seus  ministérios  e  secretarias (contingenciamento interno do Poder Executivo), além de aumentar impostos e outros tributos,  como  o  IPI  sobre  a  indústria  automotiva  e na  chamada  linha  branca  dos eletrodomésticos (que decerto será repassado ao consumidor final e aumentará o valor desses  produtos),  o  aumento  da  CIDE  para  o  setor  de petróleo  e  gás  natural  (que obviamente  será  repassado  à  população  acarretando  mais  um  aumento  nos combustíveis), além do aumento sobre as contas de energia elétrica.

Some-se  a  tudo  isto  a  intenção  do  Governo  de  atacar e  reduzir,  ou  criar  entraves burocráticos, à concessão de benefícios (direitos sociais da população), de uma forma generalizada, corrigindo algumas distorções, é bem verdade, como no caso do segurodesemprego,  mas  criando  outras,  como  no  caso  da  pensão  por  morte  e  o  auxílio doença, em frontal prejuízo àqueles que do Estado mais necessitam.

Ignorância –  É  de  se  criticar,  e  com  grande  ênfase,  tal  plano do  Governo  Federal, especialmente por ignorar que cortes orçamentários  que atinjam o órgão denominado Receita Federal do Brasil (RFB), possuem o efeito inverso do que se pode pretender ou  almejar.  Trata-se  de  uma  “economia  pouco  inteligente”,  pois  cada  real  que  é retirado ou que deixa de ser investido na Receita Federal, equivale a uma potencial renúncia  de  milhões  de  reais  que  poderiam  ser  carreados  aos  Cofres  Públicos. Explica-se.

A Receita Federal do Brasil, através do trabalho realizado pelos Auditores-Fiscais, é a responsável por investigar (por meio das fiscalizações) e recuperar (pela constituição do crédito tributário) as centenas de bilhões de reais que todos os anos deixam de ser pagos ao Estado, em virtude de fraudes fiscais, de corrupção (“caixa 2”; receitas não  contabilizadas  nem  declaradas),  de  sonegação,  de  tráfico  de  drogas,  armas  e pessoas  (pois  os  bandidos  obviamente  também  não  recolhem  impostos),  além  do combate ao contrabando e ao descaminho, que além delesarem os Cofres Públicos, prejudicam  a  indústria  nacional  (em  virtude  de  concorrência  desleal  no  mercado interno), acarretando baixos salários e perda de empregos aos brasileiros. É  a  atuação  da  Receita  Federal  e  de  seus  Auditores  que  sustenta  a  arrecadação tributária federal, seja diretamente (por meio das autuações fiscais) seja indiretamente, por meio da arrecadação dita espontânea, que porém ocorre tão-somente em face do sentimento  de  risco  de  sonegar,  e  que  por  sua  vez  é diretamente  proporcional  ao “poder  de  atuar”  da  Receita  Federal  e  dos  Auditores-Fiscais.  E  é  a  arrecadação tributária  federal  que  literalmente  sustenta  os  Poderes  da  República  (o  Executivo,  o Legislativo e o Judiciário, além do Ministério Público).

Com  essa  breve  e  resumida  apresentação  já  é  fácil  de  se  notar  e  perceber  a  quão inadequada  e  errônea  é  a  “estratégia”  de  “cortar  os gastos”  com  o  órgão  Receita Federal: frágil, com menor orçamento do que deveria, a Receita Federal e os Auditores certamente investigarão menos, autuarão menos, e menor será também o sentimento Texto aprovado em Assembleia Geral de 15/01/2015 – autorizada a sua divulgação desde que citada a fonte. de risco de sonegar impostos. Maior será o sentimento de impunidade dos bandidos, dos sonegadores, dos contrabandistas. Maior será a  propensão dos contribuintes em deixar de pagar ou de reduzir ilicitamente seus impostos.

Ao contrário, se o Governo tratasse a Receita Federal e os Auditores-Fiscais com a devida excepcionalidade, em função da sua essencialidade para o funcionamento do Estado,  e  não  como  uma  “secretaria  a  mais”  e  como  “servidores  administrativos”, respectivamente, certamente não haveria necessidade de se pensar em aumento de alíquotas de impostos, nem em criação de novos tributos, e muito menos em redução de direitos sociais à população do Brasil.

Os primeiros passos que o Governo deveria dar nesse acertado sentido seria enviar ao Congresso  Nacional  a  Lei  Orgânica  do  Fisco  –  LOF  (que  fortalece  a  Fiscalização Tributária),  além  de  rever  o  diminuto  e  incompatível  orçamento  da  RFB,  que desestimula e mina a atividade de fiscalização e de controle da arrecadação federal, vital para o Estado e a sociedade brasileira.

Conferir  necessárias  garantias  e  prerrogativas  à  Receita  Federal  e  aos  Auditores Fiscais, é ação de fácil execução, mas não realizadas pelo Governo.

Não  é  nem  inteligente  nem  razoável  tratar  a  Receita Federal, órgão de Estado com maiores dimensões do que muitos Ministérios, e principal fonte arrecadadora da União, como uma “secretaria a mais”.

O resultado  dessa  ignorância  é  o  aumento  de  impostos  e  a  supressão  de  direitos sociais à população brasileira, dentre outros prejuízos ao Brasil, conforme queremos demonstrar.

A “receita do bolo” para a Receita Federal está dada, resta ao Governo refletir sobre se esse gasto deve ser contabilizado e encarado como despesa ou investimento.