Livro aborda a terceirização dos políticos.

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Entrevista com o Prof. Althen Teixeira Filho.

Professor lançou obra sobre financiamento de campanha no Conad

 


Althen Teixeira Filho durante concessão de autógrafos

 

Na campanha eleitoral de 2010, na qual foram eleitos presidente da República, deputados federais e estaduais, senadores e governadores, o financiamento de campanha privado dos candidatos chegou a 4,5 bilhões de reais, oficialmente. Contudo, segundo a ONG Contas Abertas, esses recursos podem ter chegado a 100 bilhões de reais. Essa diferença entre a contabilidade oficial e a paralela é colocada sob suspeita por Althen Teixeira Filho, professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pois as doações, oficiais ou paralelas (“caixa dois”), influenciam na posição de parlamentares e governantes.

O professor advoga em seu livro a tese sobre a promiscuidade entre o público e o privado. No atual sistema, ele qualifica os políticos como agentes terceirizados do poder econômico. Althen Teixeira Filho lançou “Financie um candidato: compre um político” no sábado, 20, à tardinha, durante o 58º Conselho do ANDES-SN, em Santa Maria. Na publicação, que tem mais de 250 páginas, e foi bancada com recursos próprios, o autor relaciona doações de empresas e o posicionamento de parlamentares em relação a temas polêmicos como o Código Florestal Brasileiro.

Mesmo não enxergando a aprovação do financiamento público como panaceia para todos os problemas, Althen a defende, pois, segundo ele, o primeiro passo seria libertar os políticos daqueles que os financiam, ou seja, o setor privado/poder econômico. Acompanhe a seguir uma entrevista concedida pelo autor do livro, Althen Teixeira Filho, à assessoria de imprensa da Sedufsm.

PerguntaUma das questões que o senhor coloca no livro é que os políticos hoje são uma espécie de agentes terceirizados do poder econômico. Como uma pessoa leiga, que não está intimizada com o debate político, pode interpretar de forma clara o que significa isso?

Resposta– Me coloco exatamente nessa situação. Não sou cientista político, não tenho essa vivência política, o que aprendi foi dentro do ANDES-SN. E escrevendo o livro fui me dando conta, de repente [nós que temos, dentro das universidades, tanto essa terceirização], me dei conta que os políticos agem de acordo com os interesses daqueles que lhes financiaram a campanha. Temos empresas que doam 30 milhões de reais a políticos, então, como imaginar que uma pessoa, depois de eleita, não vai ao menos atender um telefonema desses indivíduos que lhe financiaram para atender a um favor? No processo eleitoral de 2010, o valor de financiamento de campanha a todos os políticos do Brasil chegou a 4,5 bilhões de reais. E em 2006 foi 1,428 bilhão. Mas isso é o que eles declaram, tem que se ver o que eles não declaram. E nesse aspecto o site (também ONG) Contas Abertas faz um cálculo que mostra que o valor de 2010 possa ter chegado a 100 bilhões de reais. Mas, para onde vai esse dinheiro? Qual é o comprometimento que um indivíduo tem, recebendo tanto dinheiro, com a pessoa que lhe financiou?

PNo livro, o sr. analisa a relação entre esses financiamentos privados e o posicionamento de deputados, senadores e até membros do Executivo, no que se refere a projetos de interesses de grupos privados?

R – Isso é inquestionável já há muito tempo. Por exemplo, a Copa do Mundo agora, essa construção de estádios, isso é muito claro… E o que eu poderia colocar de forma mais clara: código florestal brasileiro. Os dez políticos que analisaram o código florestal brasileiro – e tem aqui (no livro) a tabela do financiamento (de campanha) deles -, nós vamos ver que em torno de 75% do financiamento que eles declararam vem de setores do agronegócio. Então, aquelas reportagens que víamos e diziam “não foi a bancada ruralista que analisou o Código”. Foi sim! E foi financiada por empresas do agronegócio. Quando o Aldo Rebelo (atual ministro do Esporte) dizia que as ONGs ambientalistas recebiam financiamento externo, que era o sonho ‘batavo’ de reconquistar o Brasil e uma série de coisas… se nós analisarmos o financiamento do Aldo Rebelo, ele é financiado por empresas internacionais. E o próprio PCdoB, de Aldo Rebelo, recebeu financiamento da ‘Bung Fertilizantes’, uma empresa norte-americana que vende veneno para o Brasil. Aliás, nós estamos sendo envenenados como nunca no Brasil. O Brasil, que tem um terço da área de plantio dos Estados Unidos, consome mais agrotóxicos que os próprios Estados Unidos. O código florestal brasileiro foi aprovado para atender interesses do agronegócio. Mas não só do agronegócio. Foi um primeiro passo. O passo seguinte que se percebe nessa análise de financiamento de campanha é o que está sendo colocado agora, que é o código de mineração. Então, empresas internacionais de mineração financiando pesadamente políticos brasileiros. E aí vamos nos perguntar: mas por que empresas que vendem veneno, como a Bung, Monsanto e outras vão querer financiar políticos no Brasil? Por que empresas de mineração internacional vão querer financiar políticos no Brasil? Analisemos Belo Monte. Tem o consórcio construtor de Belo Monte, tem dez empresas – listadas aqui (no livro) -, dessas, oito financiaram os políticos do congresso nacional. O valor: 342 milhões de reais. Dos 513 deputados que hoje têm acento no Congresso, somente quatro não receberam financiamento dessas empresas: três do PSOL e um do PRTB (que era aquele partido que o Carlinhos Cachoeira queria comprar).

P – Esse consórcio contribuiu para a campanha de 500 e tantos parlamentares? Ou ele contribuiu para todos os partidos, menos esses (PSOL e PRTB)?

R – Ele contribuiu para todos os partidos, quem conseguiu acentos foram esses que lá estão. Eu não sei, por exemplo, se em outro local o PSOL ou o PRTB possam ter recebido. Mas dos que têm acento atualmente somente quatro não receberam financiamento. Todo o PT recebeu, o PSDB recebeu. Todos os partidos receberam, menos PSOL e PRTB. Mas aí tem aquelas questões: então algum deputado está liberto! Poxa, lembremos o que foi a reforma da previdência: quem não votou com o partido foi expulso do partido. E isso é muito importante porque o objetivo hoje dos partidos é conseguir financiamento de campanha. Eles precisam de financiamento de campanha para manter esse espetáculo caríssimo (110 bilhões de financiamento particular), carnavalesco, que apresenta candidatos de mentira para o povo e o povo vai votando.
100 bilhões segundo o site Contas Abertas para a campanha de 2010. O processo de 2002 foram 814 milhões de reais. De 2006, 1 bilhão e 428 milhões. O de 2010, 4 bilhões e 500 milhões de reais. Mas isso é o que eles declaram. No site Contas Abertas isso pode ter chegado [em 2010] a 100 bilhões de reais. É muito dinheiro, né?
E aí vamos entendendo porque se constrói estádios e não hospitais. Eu fiquei pensando sobre isso: por que estádio e não hospital? Porque aí acalma, né? É a velha lógica romana de dar pão e circo para o povo.

PO sr. fala sobre a questão do financiamento público de campanha. Essa solução seria paliativa ou efetiva?

R – É uma solução inicial, eu acho. Reforço o que disse, não tenho esse conhecimento de uma ciência politica. Mas para mim fica claro que o primeiro passo é libertar os políticos do poder que lhes financia. Porque aí eles se voltam para quem lhes financia, que é o financiamento público de campanha. Aí vão dizer assim: as empresas não podem doar mais? Podem. Abram uma conta que fique sendo regida, por exemplo, pelo TSE, e quem quiser deposita nessa conta. E daí reverte para cada um dos partidos, com a decisão que achar melhor. Vamos ver quantos serão financiados, né? Vamos ver se essas empresas terão interesse, por exemplo, de doar três, quatro, cinco, 30, 320 milhões?

P Quem são os campeões [em financiar campanhas]?

R – A ‘JBS Free Boi’ chegou a doar 40 milhões de reais. O Eike Batista doou um milhão (de reais) para Dilma, um milhão (de reais) para o Serra, 470 mil (reais) para o (Sérgio) Cabral (do RJ), 170 ou 140 mil reais para o Cristovam Buarque, 300 mil reais para a Marina Silva. Se tu pegares as empresas de celuloses ou pasteiras (porque o que se exporta é pasta de papel, sem qualquer valor agregado, e lá fora é que se produz papel), elas financiaram só nos estados onde têm plantações. E esses deputados agem de fato como terceirizados do poder econômico.

PHá algum deputado, algum senador, que é campeão em ter recebido recurso?

R – Olha, se botar o pessoal do código florestal brasileiro, já dá um exemplo. Esse é um poder, e é um grupo, que ainda se desconhece no Brasil. Acho que é o mesmo poder que matou o PC Farias, o mesmo poder que matou o prefeito lá de Santo André, e que vai matar outros. Não é um grupo de dez pessoas, não é uma irmandade. Mas é um interesse etéreo, que não é palpável, em que todos se identificam com essa ganância pelo dinheiro, pelo poder. É o poder por 20 ou 30 anos. E acho sim que estamos numa situação muito periclitante, muito perigosa, e são bem vistos esses movimentos todos que aconteceram em junho. E até por isso – e não só por isso – decidi vir lançar esse livro por dois fatores: primeiro, é o Conad, pois tudo que aprendi devo ao ANDES-SN, e o outro é por vir a Santa Maria, porque tenho muito apreço, sempre fui muito apoiado pelo pessoal aqui. Isso para mim é um ponto de realização muito grande.


Texto: Fritz R. Nunes com fotos de Carina Carvalho
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

Replicado a partir do site http://www.sedufsm.org.br/index.php?secao=noticias&id=2214